domingo, 23 de agosto de 2015

O que é o silêncio

Silêncio é quando eu começo a sentir o mundo, a mim e o medo. As pessoas que amo existem em silêncio. A palavra acaba e começa a ação. Dentro e fora. A Paula cria espaços na alma, como hoje quando vi como fazia dentro de si com minha camisa nova. E como espera meus movimentos, e como fica alerta, e como espera quem eu sou. Ou quando as pessoas más aparecem. E como falam do que não sabem. Porque têm medo principalmente de mim. Silêncio é quando deixo os outros entrarem, e quando me desespero, porque sei que então só haverá a verdade, e a verdade é que amo mas tenho medo. Silêncio acontece quando elas me enxergam, e eles também. E quando eu me mostro a mim - mas tenho medo. Silêncio é a origem do medo, do amor e do ódio. Quando tudo aparece, quando sou eu mesmo. Quando sou, e faço, e amo, e transo.
Silêncio é quando o amor pelo mundo surge, e eu morro, e renasço.
Silêncio é quando ela me quer. E quer vivo. Para mim. Para ela. Quando ela quer-me dentro.
Silêncio é ver o Thiago em mim. E abordar e aceitar seu amor. E o amor deles.
Silêncio é amor.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Proposta Grupo - Condomínio Brisas

Bom dia
Estou montando um grupo de teatro em Taboão da Serra. Trabalho na área há 8 anos, não tenho ainda DRT, mas com 6 peças de temporada no currículo, mais 7 próprias encenadas, além de dramaturgo (20 peças, entre curtas e longas, uma encenada numa escola) e diretor (1,5 ano de experiência), com 36 pessoas no grupo (28 atrizes e 8 atores), creio ter experiência suficiente ao menos para começar e passar o conhecimento adquirido pela equipe. Meu currículo está em http://contreraautor.rcontrera.com.br/2015/04/curriculo.html. Uma proposta para o grupo está em http://contreraautor.rcontrera.com.br/…/grupo-it-ou-garotas… (o grupo foi batizado pelo Mário Bortolotto, tentei mudar o nome mas minhas atrizes não consentiram). Um texto esclarecedor está em
https://hojeemnoticias.wordpress.com/…/o-teatro-como-ferra…/. Como agora a intenção é montar um grupo e não aproveitar atrizes e atores que conheço para montar espetáculos ou cenas avulsas, o grupo terá oficinas cobradas. Não tenho ainda referência de preços. A intenção, por enquanto, é montar grupos pequenos no condomínio, com ajuda de assistente. Um lugar onde publico textos (além de no jornal Hoje em Notícias) é:
Obvious (cultura, sociedade, tecnologia, política):
http://lounge.obviousmag.org/o_olhar_amor_na_arte_apos_o_f…/

Uma ideia de energia com que pretendo trabalhas está neste cd do Nick Cave: https://www.youtube.com/watch?v=wcKYaf0LW2g

Grupo It ou Garotas do Contrera & Cia. – Objetivos e procedimentos

Grupo It ou Garotas do Contrera & Cia. – Objetivos e procedimentos

Como funciona:
Linhas gerais (tirando as exceções, geralmente monólogos): Os textos de Rodrigo Contrera podem ser encenados sob autorização. Direção combinada entre as partes, tudo o mais também. Rodrigo não faz questão de aprovar.

Monólogos
Os monólogos são, até este momento (17/08/2015), combinados entre Rodrigo e o ator/a atriz. Eles podem ser encenados por eles/as sem autorização na ocasião que aprouver: saraus, rua, festivais, etc. As remunerações, nesses casos, são divididas entre o ator/a atriz e o autor. A direção pode ou não ficar a cargo de Rodrigo, que não ganhará mais, proporcionalmente falando, com isso. As apresentações de monólogos devem ser gravadas em áudio ou em vídeo para envio a Rodrigo.

Cenas
As cenas são dirigidas, até este momento (17/08/2015), por Rodrigo. Elas podem ser apresentadas em qualquer ocasião pelas atrizes/atores que já as ensaiaram. O mesmo para as remunerações (que pode incluir quem as filmar). A direção, por enquanto, é de Rodrigo, mas pode haver direção, sem autorização, de Priscila Vidal. Cenas combinadas somente entre as atrizes/atores são dirigidas por elas/es. As cenas, quando apresentadas, devem, de preferência, ser gravadas em vídeo pelos videomakers da equipe.

Peças
As peças são ensaiadas, encenadas e dirigidas apenas por Rodrigo Contrera e Priscila Vidal, por enquanto (17/08/2015).

Monólogos novos/ cenas novas
Os monólogos e cenas novas são dedicadas por Rodrigo a atores/atrizes específicos/as. Devem ser apresentados/as em um mês, desde que o ator/atriz topou encená-los/as. Tão logo isso é feito, o monólogo/a cena volta para o corpus do material para a equipe.

Monólogos novos:
Pai: http://contreraautor.rcontrera.com.br/2015/08/pai-e-incomodo-sem-indicacoes-cenicas.html

Incômodo: http://contreraautor.rcontrera.com.br/2015/08/pai-e-incomodo-sem-indicacoes-cenicas.html

Cenas novas:
Quem já morreu: http://contreraautor.rcontrera.com.br/2015/04/quem-ja-morreu.html

Peça nova:
Cenas mudas (Um interlúdio e diversos intercursos) – Ato único: http://contreraautor.rcontrera.com.br/2015/07/cenas-mudas-um-interludio-e-diversos.html

Cenas já feitas
Já foram encenadas as seguintes cenas:
Portas: texto Rodrigo Contrera, em http://contreraautor.rcontrera.com.br/2015/04/portas.html, com Gabi Spaciari
Sonhos: texto Rodrigo Contrera, em http://contreraautor.rcontrera.com.br/2015/04/sonhos.html, com Claire Feliz Regina, Naomi Takahashi, Valentine Durant
O espelho: texto Rodrigo Contrera, em http://contreraautor.rcontrera.com.br/2015/04/o-espelho.html, com Cristina Freitas e Paola Barbosa
A tia: texto Rodrigo Contrera, em http://contreraautor.rcontrera.com.br/2015/04/a-tia.html, com Valentine Durant e Paola Barbosa
A Enfermeira: texto Rodrigo Contrera, com Carola Aeissami e Paola Barbosa
No banco: texto Rodrigo Contrera, em http://contreraautor.rcontrera.com.br/2015/04/no-banco.html, com Jezz Pacheco e Gabi Spaciari

Há ainda as próximas cenas para encenar:
O tempo: texto Rodrigo Contrera, em http://contreraautor.rcontrera.com.br/2015/04/sonhos.html, com Renata Sayuri e Naomi Takahashi
Puteiro: texto Rodrigo Contrera, em http://contreraautor.rcontrera.com.br/2015/04/puteiro.html, com Cézar Hiraki Velázquez, Priscila Vidal, Emanuela Tosta, Magali Moreira, Debora Aoni, Silvia Jatobá, Raquel Cantanho e Samara Alexandre

Peça e cena já gravadas
Somente uma pequena prova de amor (peça): https://www.youtube.com/watch?v=PisFnQqu2mk
Boquete (cena) (filmada por João Baptista Lago): https://www.youtube.com/watch?v=gWbLQ7B4voA e https://vimeo.com/112908078

Quem faz ou pode fazer o quê

Argumentos: todos

Dramaturgos: Rodrigo Contrera (e) (fixo), Cássia Antunes (e), Priscila Vidal (e), Renata Sayuri (e), (efetivos), Régis Trovão Rodrigues (e), Vanessa Deborah (possíveis), Luís Capucho (argumento e romances, adaptados pela equipe), Euler Santi (a depender), Cíntia Wartusch (a depender), Ella Martines (a depender), Sandra Frietha (a depender), Mariana Pedroso de Moraes (a depender), Ayron Barsan (a depender)
Diretor (até prova em contrário): Rodrigo Contrera; diretores escolhidos por Rodrigo Contrera, para equipes específicas (pode ser qualquer membro do grupo informal do facebook)

Assistente de direção: Priscila Vidal

Batedor de texto e contrarregra oficial: Ayron Barsan e todos, após breve orientação

Atrizes (em ordem alfabética): Alexandra Beatriz R. Bononi, Anamar Souza, Carola Aeissami, Claire Feliz Regina, Cristina Freitas, Débora Aoni, Emanuela Tosta, Fernanda Valencio, Júlia Rodrigues, Juliana Pithon, Mariana Pedroso de Moraes, Michelly Alvvees, Paola Barbosa, Raquel Cantanho, Renata Gouveia, Renata Sayuri, Samara Alexandre, Silvia Jatobá, Valentine Durant

Atrizes convidadas (em ordem alfabética): Aline Delouya, Adriane Gømes, Bianca Maia, Luciana Tomie, Raisa Rocha, Silvia Lourenço, Liz Reis, Thiara De Souza Borborema, Jota Del Rosso, Natália Foschini, Helô Vieira Santos, Silvia Lourenço, Ella Martines, Liz Reis, Jeyne Stakflett, Gabi Spaciari,

Atores (em ordem alfabética): Ayron Barsan, Bruno Ventura de Oliveira, Cézar Hiraki Velázquez, Lucas Stevanato, Pedro Guillaumon, Wladimir Trevizzano,

Atores convidados (em ordem alfabética): Alessandro Canton, Andrew T. Silva, Arthur MalasPina, Gustavo Guimarães Gonçalves, Laerte Késsimos, Leonardo Dalla Vale, Marcelo Selingardi, Mauricio Collis,
Fotógrafos, videomakers e cinegrafistas oficiais (em ordem alfabética): Allan Herison Ferreira, João Baptista Lago, Vítor Miranda

Convidados (em ordem alfabética): Alberto Magno, Alessandro Canton, Ana Peluso, Andressa Conceicao, Adriana Gianvecchio, Armando Antenore, Bruno Ventura de Oliveira, Caio Jade Puosso, Carol Marinho Martin, Cintia Wartusch, Cesar Goulart, Cesar Ribeiro, Claudete Castro, Dan Ricca, Diogo Granato, Ella Martines, Eliane Ramos de Oliveira, Fepa Teixeira Pinto, Filipe P. Santos, Gabriel Bistafa, Gisela Lourenção, João Brito, João Roc, Koldo Salazar López, Lara B. Moler, Leandro Rosario, Michelly Mitchell, Max Alberto Gonzales, Lucas Oliveira, José Dos Santos Filho, Nélio Abbade, Mário Sérgio Avezú, Marina Franco, Nilton Claudino, Helder Parra, Paula Spsfantin, Paulo J C Pires, Renato Mendes De Azevedo Silva, Solange Borelli, Suzanete Prestes, Sandra Frietha, William Erick,

Convidados centrados em leituras críticas: Adriana Gianvecchio, Carol Marinho Martin, Lara B. Moler, Helder Parra, Solange Borelli

Peças com direitos autorizados (em ordem de acordos):
1) “Diálogo dos Mortos”, de Luciano de Samósata, autorização por Maria Celeste Consolin Dezotti e Henrique G. Murachco/ com versão inglês (ainda não autorizada) por Baudelaire Jones// encenação a depender das partes interessadas
2) Peças curtas, traduzidas em “O que você está olhando (Teatro 1913-1920)”, de Gertrude Stein// encenações em monólogos, diálogos ou trabalhos em grupo, a partir das traduções (autorizadas)// não dependem de autorização, para encenação
3) Cenas “Extração” e “Duas irmãs”, de Renata Sayuri// encenações a depender de autorização da autora
4) “Cinema Orly”, de Luís Capucho// encenações a depender da aprovação da adaptação (adaptação sendo feita, final de agosto de 2015)

Projetos que independem de cessão de direitos:
1) “Amigos mafiosos”, cenas curtas sobre a máfia norte-americana, com Régis Trovão Rodrigues// encenações a depender de encontrar local para elas// elenco sendo formado
2) “Lemmy, trechos de uma vida”, livremente inspirada na biografia de Lemmy Kilmister, “White Line Fever”. Paul Inder, filho de Lemmy, foi informado da peça, originalmente adaptada em inglês (adaptação sendo feita, enviada para aprovação).

Detalhamento dos projetos:

1) Diálogo dos Mortos, de Luciano de Samósata, autorização por Maria Celeste Consolin Dezotti e Henrique G. Murachco/ com versão inglês (ainda não autorizada) por Baudelaire Jones// encenação a depender das partes interessadas
Bibliografia para quem quiser avançar nesta peça:
Traduções de Maria Celeste, Murachco e Américo da Costa Ramalho (procurem)
Diógenes, o Cínico, de Luis E. Navia
Os Cínicos/ O movimento cínico na Antiguidade e o seu legado, organizado por Marie-Odile Goulet-Cazé e R. Bracht Branham
Os Estóicos, organizado por Brad Inwood
Os Céticos Gregos, de Victor Brochard, tradução de Jaimir Conte

2) Peças curtas, traduzidas em “O que você está olhando (Teatro 1913-1920)”, de Gertrude Stein// encenações em monólogos, diálogos ou trabalhos em grupo, a partir das traduções (autorizadas)// não dependem de autorização, para encenação
Bibliografia para quem quiser avançar nesta peça:
Geography and Plays, de Gertrude Stein

3) Cenas “Extração” e “Duas irmãs”, de Renata Sayuri// encenações a depender de autorização da autora

4) “Cinema Orly”, de Luís Capucho// encenações a depender da aprovação da adaptação (adaptação sendo feita, final de agosto de 2015)
Projetos que independem de cessão de direitos:
1) “Amigos mafiosos”, cenas curtas sobre a máfia norte-americana, com Régis Trovão Rodrigues// encenações a depender de encontrar local para elas// elenco sendo formado
Bibliografia para quem quiser avançar nesta peça:
Joe D. Pistone, Donnie Brasco, Minha Vida Secreta na Máfia// filme: Donnie Brasco, de Mike Newell// personagens: Sonny Black e Lefty Ruggiero
John Gotti, O Último Mafioso, de Howard Blum// personagens: Sammy Bull Gravano (por enquanto, Tiago Motizuki) e John Gotti
O Último Chefão, de Salvatore Lucanía (Lucky Luciano)// personagem: Lucky Luciano
Outros personagens: Meyer Lansky, Bugsy Siegel, Al Capone, Johnny Fratiano, Edward Bunker
Imagens (para cenografia e figurino)
https://www.google.com.br/search?q=ravenite+social+club+photos&biw=1024&bih=601&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0CAYQ_AUoAWoVChMI3Jrz_v-0xwIVR0KQCh3LXAkd

2) “Lemmy, trechos de uma vida”, livremente inspirada na biografia de Lemmy Kilmister, “White Line Fever”. Paul Inder, filho de Lemmy, foi informado da peça, originalmente adaptada em inglês (adaptação sendo feita, enviada para aprovação).

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Pai e Incômodo (sem indicações cênicas)

Pai

Meu pai nunca falou conosco em inglês. Ele se achava escocês pelo sobrenome Campbell. Ele aprendera inglês sozinho. Eu sempre tive dificuldade com o inglês. Daí os EUA ajudaram a derrubar o Allende. Precisamos ir embora. Comecei a antipatizar com a língua. Fiz vários cursos e nunca aprendi direito. Hoje não tenho mais paciência com ela. Gosto do inglês da Inglaterra. E do inglês dos criminosos. Canto músicas em inglês quando sei a letra. E invento letras quando não sei. Confundo as palavras. Gosto das palavras feias. Gosto mais do alemão. Não entendo alemão. Elas têm tudo a ver. Começo a relembrar do meu pai. Ele morreu bêbado.

Father

My father never talked to us in English. He thought himself scottish because his surname Campbell. He learned English alone. I remember that English always was difficult to me. Then, USA helped to beat Allende. We needed to go away. I started to antipathize with the language. I made some courses, but never learned it correctly. Today I have more paticence with it. I like the England' English. I like the criminals' English. I like to sing in English when I know the lyrics. And I create lyrics when I don't know it. The words confuse me. I like ugly words. I'd rather German. I don't understand German. The languages are similar. I start to remember my father. He died drunk.

Incômodo

Incomodou que nada tenha incomodado. Pois vi isso. Não vi tanto, tão forte, mas senti assim. Incomodou-me de não ter rido mais. Pois tentei rir e quase ri, mas não ri. Incomodou-me a língua, próxima e estranha. Mas não a peça. Incomodou-me que Martin e David fossem eu mesmo. Mas isso no fundo não me incomodou. Há um incômodo estranho em nada realmente me incomodar na peça. Mas incomodou-me que ninguém parecesse se incomodar. Incomodou-me que os incômodos que vi fossem tão leves e profundos. Mas na peça nada me incomodou. Mesmo. O incômodo é mais estranho.
Eu sou o incômodo.
O incômodo é uma coisa e ela sou eu.
Foda-se a peça. Obrigado, peça.

Unconfortable/Trouble

I felt myself unconfortable that nothing made me unconfortable. Because I saw that. I don’t saw that, so strong, but I felt this way. I felt myself unconfortable that I didn’t laugh more. Because I tried to laugh, and almost laugh, but I don’t laugh. I felt myself unconfortable with the language, so near and so distant. But not with the play. I felt myself unconfortable that Martin and David were me. But that, sincerely, don’t made me feel myself unconfortable. There is something strange and unconfortable in nothing really made me feel unconfortable with the play. But I felt myself unconfortable with the fact that nobody expressed itself unconfortable. I felt myself unconfortable with the fact that the things unconfortable were so light and profound. But in the play nothing made me feel unconfortable. Really. The unconfortable/trouble is more strange.I’m the unconfortable/trouble.The unconfortable/trouble is a thing and it is me.Fuck the play. Thanks, play.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Cenas mudas (Um interlúdio e diversos intercursos) – Ato único – Rodrigo Contrera

(Proposta de encenação: Atores com máscaras de animais extintos: ilustração abaixo. Indicação válida para todos os diálogos menos o monólogo intermediário, que deverá ser lido por um homem de salto alto, paletó e gravata e chapéu côco. Nos diálogos dos animais, os bichos escolhidos precisam ser improváveis: cervo conversando com rinoceronte, passarinho com mamífero aquático, etc.)


ATO ÚNICO

- as narrativas tradicionais estão esgotadas.
- as alternativas também.
- ninguém parece dizer nada com nada.
- e quando querem dizer, dizem tipo assim: ah, as coisas, meu deus, que drama.
- o pessoal não gosta muito de ver isso.
- é chato ter que levar dever de casa para a cama.
- só os pseudointelectuais babacas parecem gostar.
- nem eles.

- mãe, me leva ao teatro?
- para ver o quê, minha filha?
- ah, sei lá, um palhaço.
- para quê, lindinha?
- ele parece ser mau, sabe, mãezinha. tipo o lobo mau.

- até as crianças não aguentam mais.
- sabem mais que a gente.
- devem até se dar melhor na cama que nós.
- será? (espanto)
- bom, cama mesmo é que não, porque quando transam é nos elevadores.
- ou nos corredores entre os andares.
- onde não tem câmeras.

- a vanessa blue é foda.
- prefiro a sasha grey.
- adoro as tetas da sara jay.
- eu gosto da eva angelina.
- sabe que ela prefere engolir porque fica todo sujo e ela não gosta de ter o trabalho de limpar?
- que gracinha! (todos).

- o lobão só pode ter pirado.
- deixou de fazer música; agora, só manifesto.
- contra o quê?
- ah, algo sobre a terra do nunca.
- alice no país das maravilhas?
- um manifesto do nada.
- puta merda, o cara pirou mesmo.
- enquanto isso, aquele sujeito feioso tá com a bola toda.
- aquele que rima com filé?
- é. o cara foda do eixo.
- ah.

- porra, meu, preciso ter uma mensagem.
- manda um whats.
- vou gravar uns negócios, transcrever e concorrer àquele concurso.
- você não escreve muito fácil, é isso?
- não, é que aí pago somente a transcrição.
- ah.

- o sujeito é uma gracinha.
- mas feio...
- só se alimenta mal.
- então come mal.
- dizem que não.
- como assim?
- ele parece bom de língua. dizem.
- aí é bom.
- isso é coisa de boiola.
- gosto mesmo é de ser enrabada.
- eu gosto mais é de rabada.
- vamos dividir?

- gostei quando ela pagou peitinho.
- os biquinhos dela são pequenininhos.
- uma graça.
- mas os peitões.
- tesão.
- pô, não fala assim.
- ah, vai, ela bem que gosta.
- você nem sabe.
- eu queria mesmo um boquete.
- aquela boca... (todos)

(Monólogo)
Em política, quando alguém começa a te convencer de alguma coisa, é perigoso. Pois com isso esse alguém tende a facilitar o TEU entendimento de coisas que dizem respeito A ELE. Ou seja, essa pessoa começa a controlar a conversa.
Para saber o que você mesmo pensa, é preciso a toda hora reparar em que direção vai teu pensamento. Ele realmente privilegia as questões mais importantes para você?
Por exemplo: liberdade ou igualdade? Mérito ou procedimento? Lei ou eficiência? Sempre que esses temas entram em debate, tendem a opor umas pessoas às outras, ou a aproximar pessoas que estavam distantes.
Não se deixe iludir por discussões ideológicas. Todos são grupos que querem poder.
(tempo)
Uma gestão desgastada e gastadora está em busca de apoio, mas ele começa a escassear por parte de quem irá pagar a conta.
As irregularidades se espraiam pelo noticiário. Os apoiadores da gestão começam a perder a fala. Não convence transformar mais em complô algo que segue os rumos do sistema. Não convence mais demonizar os chatos por serem como são. Resta discutir o assunto. E muitos não querem por simplesmente temerem o pior - a entrega do butim a quem menos apreciam.

Desde os 90, as instituições têm sido motivadas a funcionar. Hoje, embora não do jeito desejado, essas instituições parecem começar a fazer jus ao nome. Daí que quem tenta esconder a cabeça embaixo do chão começa a perder o fôlego.
(tempo)
Meus ideais – sou o autor da peça – nunca mudaram. Mas certas questões que me incomodavam começam a adquirir nome. E a deixar de serem incômodos para se tornarem indignação.
Esta peça foi feita num momento histórico bem preciso. Poderão dizer que sendo encenada depois, terá perdido o timing. Afinal, ninguém sabe o que irá acontecer.
Mas é mentira. Porque sabemos que tudo será o mesmo.
Enquanto isso, a vida continua.
(Fim do monólogo)

- dá um beck?
- a coisa é assim.
- ah, tudo isso?
- se facilita, fica difícil.
- eu tô na merda.
- eu também.
- tá, só meio, então.
- tá.

- ontem não consegui tomar banho.
- falta d’água?
- excesso de conta.
- nem notei.

- o filho dela foi ao ISIS.
- e daí?
- tá se dando bem.
- é?
- virou case de marketing.
- um dia dá aula em Harvard.
- pelo menos tem culhões.
- quem sabe.

- ela não me ama.
- ninguém ama ninguém.
- “eu vou me matar!”, era minha fala.
- e tinha algo a ver?
- eu já havia tentado.
- não conseguiu?
- não passou o carro certo.
- que carro era?
- ah, um desses aí, modelo novo.
- ah.
- um dia pulo. (tempo) cansa esperar.
- tá.
- divide comigo (uma bituca)?

- tenho matérias, com fontes, documentos e tudo.
- e o que falta?
- onde publicar.
- mas por quê?
- todo mundo pensa igual.
- sei.
- e ninguém tem culhão.
- coloca num blog e esquece.
- para levar uma ação e ter que vender meu apê? nem fodendo.
- vai pro exterior então.
- para quê?
- ganha uma bolsa qualquer e na volta lança como trabalho de conclusão.
- deve funcionar.

- elas tão dando em cima.
- quem?
- aquela que já é avó.
- sei.
- tem uma bela bunda.
- entendo.
- e a outra.
- a garota?
- é, aquela que fica zangada por qualquer coisa.
- e você?
- só quero umas rapidinhas.
- qual o problema?
- são evangélicas.
- ah, vai.
- elas até fazem, mas depois, lá vem a pregação.
- aí é um saco.

- querem falar do benjamin.
- de novo?
- e do bauman.
- saco!
- e do agamben.
- puta merda.
- eu queria fazer contas.
- faz marketing político.
- pode ser. gosto de me perder nos números.
- e os outros são maiores.
- é.

- lincharam o cara.
- outro fingiu-se de morto.
- também se fodeu.
- outro conseguiu.
- disse que nunca mais.
- nunca mais, seria legal tudo isso.
- será? (para a plateia)

- o kraus apanhava na rua tão logo publicava seu jornal.
- o craig era um louco. queria marionetes.
- mas dizem que era um precursor.
- de quê, não sei.
- e o francês louco?
- nunca conseguiu tornar suas ideias algo real.
- isso é ser precursor de algo?
- só se for do próprio fracasso.
- ah, vai!
- cansado de ídolos.
- prefiro dar o meu dízimo.

(tempo longo)

- o que o sr. quer?
- o fim das maracutaias.
- e quem é o sr, afinal?
- ninguém.
- entendo.

(off)
Monte a sua máfia – versão 2015.
Faça assim. Tenha amigos. Que eles sejam os melhores. Mas que sejam seus amigos.
Controle as regras. Seja rígido. Leia sobre ética. Argumente bem. Vença as discussões. Tenha uma ironia na ponta dos lábios.
Crie concursos. Escolha os amigos. Escolha outros para as vagas restantes. Fique amigo deles.
Viva discretamente. Controle os impulsos. Faça tudo no interior de sua casa. Nada fora. Seja recatado.
Adote um nome charmoso.
E o mais importante: seja bastante criterioso nas suas amizades.

(trilha final: Fábio Caramuru, Moods Reflection Moods, 3ª faixa)


FIM

sábado, 25 de abril de 2015

Puteiro

Puteiro.
Seis putas.
Priscila. Loira, bonita, gostosa, com roupa abusada e gasta. Triste. Morta.
Silvia. Cabelo castanho/ruivo, 40 anos, boas ancas, graciosa, dança bem. Animada.
Emanuela. Alta, corpo forte, 35 anos, barraqueira, a líder das putas. Vestida de forma espalhafatosa.
Débora. Baixa, gostosinha, meio gordinha, boca suculenta, meio amarfanhada, alegre porque se prepara para mais um programa certo. É a única que faz anal (isso tem que ficar claro, mas aos poucos).
Raquel. Puta belíssima, mas enfeiada, destruída. Mas só por fora. Olhar com crença.
Samara. Puta menor de idade. Pálida, com medo ou querendo fugir. Vestida com certa discrição. Isolada.
Cézar faz Cézar. Japonês alto, com tendência à obesidade, voz tonitruante, com tendência a se comportar de forma espalhafatosa. Mas com criação tradicional, tendente a se controlar para manter uma aparência de que não se convence mais. 35 anos.
Gabriel faz Gabriel. Amigo de Cézar. Vestido com camiseta regata, short longo, casaco de couro rasgado. Zoado, tenta ser ouvidos de Cézar. Despreza a situação, mas gosta de estar no puteiro. Está zoado.
Priscila não está no palco. Entrará 1 min depois de a cena começar.
Silvia está no palco. Fazendo um café de coador, para no máximo dois copos.
Emanuela está olhando para fora de uma janela imaginária. De mau humor.
Débora está de costas, pintando as unhas. Está seminua.
Priscila entra saindo do lobby do bar, como se estivesse vindo de um quarto. Está meio amarfanhada. Roupa abusada, gasta, meio suja. Como se saísse de um programa com o Cézar (isso não tem que ficar ÓBVIO). A intenção é atiçar o instinto dos espectadores homens, do tipo “essa eu gostaria de comer”. Mas ela passa uma outra impressão: de morte, de mulher fantasma, inexistente enquanto vontade, vazia de passado, presente e futuro. Para contrapor a vontade de “comer” do público masculino com a constatação da ausência de vida da puta gostosa. Como se o que tivesse acontecido fosse de alguma forma indevido. Ela se comporta, no passo lânguido, como se não andasse na terra. Priscila anda de forma autômata, sem precisão contudo, lutando contra o poder da gravidade, jogando suas carnes à toa na vida, com olhar vazio e tênue, muito fraco, sem olhar para nada. Imersa num nada do qual não veio e para o qual não vai. Ela avança em 45 segundos cravados e dirige-se ao banheiro, do qual não sai rapidamente. Como se estivesse indo se lavar. Como se só houvesse esse banheiro no local. Lá, gritos de incômodo, agressivos, de putas lutando pelo espaço.
Cézar chega depois de Priscila.
Monólogo de Cézar.
(Se joga na primeira cadeira que encontra)
Foi bom. Foi bom! Foi bom, gostosa, foi bom! Ouviu?
Foi bom... (faz como se relembrasse. Mas está bêbado. Não parece se lembrar. Os sons aparecem ocos, como se não tivessem referencial. Como se não houvesse referente (ver o significado de referente em gramática – condição de enunciação, ambiente))
Mais uma! (grita)
(tempo)
Mais uma! (grita)
(menos tempo)
Mais uma, já disse! (grita mais alto)
(ninguém se mexe. Sequer para atende-lo, sequer para ouvi-lo, sequer para notar sua presença)
(bate na mesa)
Ei, aqui, ninguém me ouve, não? (grita muito alto)
(nenhuma reação, sequer silêncio – todas continuam fazendo o mesmo que faziam)
(ele para. Não se mexe.)
Foi bom...
(tempo)
Mais uma...
(tempo)
(Silvia faz que se aproxima. Toca-o muito de leve com a ponta de um dedo)
(Ele grita)
Não me toca!
(tempo)
Ah...
(ri, gargalha) (muito tempo)
Desculpa...
(tempo)
Mais uma! Mais uma! (grita)
(muito tempo)
(fala o texto, frio, sem aparentar estar bêbado. Lento, pausado, com respeito a si e ao outro)
Eu bati nela. E ela caiu. Eu tentei pegá-la. Não deu. Ela se foi. Eu também.
Sim, ela caiu. E eu também.
Ela falava muito. E eu gostava. Mas eu bebia. E bebia. E tentava. (tempo) Não sei o que eu tentava. (tempo)
Ela era vagabunda. E eu gostava. Ela dava para todos. E eu gostava. Ela falava. E eu gostava. Mas eu bebia. E tentava. Não sei o que eu tentava.
(bêbado)
Mais uma! (grita)
(mais tempo)
Ela queria algo de mim. Eu sabia que queria. Eu até apostei com eles. Ela queria algo de mim. E eu bebia. Porque queria. Claro, eu sempre quis. Eu nunca bebi sem querer. Eu tentava. Não sei...
(algum tempo) (bêbado, desesperado)
Eu quero mais uma! Eu quero mais uma! Mais uma!
(dá um pinote em si mesmo, afasta-se de onde estava)
Mas que foi bom, foi bom!
(Priscila volta. Do jeito que foi indicado)
(bastante tempo)
(ele diz para ela, suavemente)
Foi bom?
(bastante tempo)
(cantam a música, desconjuntadamente)
I hurt myself today
To see if I still feel
I focus on the pain
The only thing that's real
The needle tears a hole
The old familiar sting
Try to kill it all away
But I remember everything
What have I become
My sweetest friend
Everyone I know
goes away
In the end
And you could have it all
My empire of dirt
I will let you down
I will make you hurt
I wear this crown of thorns
Upon my liar's chair
Full of broken thoughts
I cannot repair
Beneath the stains of time
The feelings disappears
You are someone else
I am still right here
What have I become
My sweetest friend
Everyone I know
goes away
In the end
And you could have it all
My empire of dirt
I will let you down
I will make you hurt
If I could start again
A million miles away
I would keep myself
I would find a way

(ao final, se olham. Pontualmente. Voltam a ser o que eram)

Quem já morreu

Rodrigo entra em cena. Lá estão, meio sem fazer nada, Wlad, Pri e Ayron. Ao fundo, olhando para fora da janela (claro que imaginária), Renata Gouveia.
Quando Pri vê Rodrigo aparecendo, fica nervosa e faz movimentos de que deveria estar fazendo alguma coisa. Na dúvida, vai até a mesa de centro e tenta arrumá-la (embora esteja arrumada).
Rodrigo entra sem pedir licença e sem cumprimentar ninguém. Wlad fica ao fundo, como uma espécie de segurança. Não faz gestos e mantém postura estrita de armário. Não fica tenso.
(Os movimentos de Rodrigo são coreografados segundo a sensibilidade desse tipo de personagem. Quem quiser, do grupo, me sugerir algo, pode)
Rodrigo chega próximo a um notebook no meio da sala. Consulta algo, de forma brusca. Pri finge que arruma a mesa.
Pri fala.
- Rô, tudo bem com vc? Vc parece nervoso.
- Tudo bem. (visivelmente incomodado, mas com certa hostilidade)
- O que foi?
- Não, é que aquele bosta ainda não me depositou a grana.
- Não precisa se preocupar.
- COMO ASSIM? COMO ASSIM NÃO PRECISO ME PREOCUPAR?
- Não é isso, meu bem...
- QUEM É QUE PAGA VOCÊ, CARALHO? QUEM É QUE PAGA ESSE ARMÁRIO AÍ? E AQUELA BOBINHA ALI OLHANDO PELA JANELA?
- Rô...
- (tempo) VAI TOMAR NO CU.
- (fica magoada. Parece compreender. Ele parece não ver nada na sua frente.)
Em seguida, ele volta a olhar o notebook, como se nada tivesse acontecido. Ele fica lá alguns minutos. Ela parece preocupada com ele. Pergunta.
- Rô, quer umas frutas?
- Como assim? (fazendo como se ela tivesse interrompido alguma coisa)
- Umas frutas, Rô, para você se sentir melhor.
- Eu tô bem, caramba. Só esse porra que não paga.
(tempo. Pri para e faz que sugere algo)
(como se fosse algo meio proibido. Algo meio próximo a uma tara dele. No caso, sexo oral)
- Que foi?
- (baixinho) Quer?
- É, não adianta o tempo passar e eu aqui, o imbecil. Tá!!!! (alegre).
Senta-se de costas para a plateia. Ela começa a fazer o oral.
Ele goza, mas tranquilo. O notebook faz um barulho. Ele joga ela para trás, bruscamente. Fica magoada, até se machuca um pouco.
Ele olha o notebook. Grita.
- MERDA! Ele não pagou!
Ele olha para ela, para seu pênis, pendurado, e começa a gargalhar, de forma brusca, irônica e agressiva.
Passam-se uns 2 minutos de gargalhar, com ele apontando para ela.
- Pode deixar, sua puta, daqui a pouquinho tem mais suquinho.
Gargalha mais.
Olha para o seu lado, onde está o Wlad. Para, olha fixo para ele, diz.
- Wlad, você se incomodou com alguma coisa?
Wlad não responde.
- Porque é o seguinte. Se se incomodou, ou me mata agora ou foda-se.
Nada acontece.
Rodrigo volta seu olhar para a Renata, olhando ainda para fora da janela, visivelmente desinteressada de tudo.
Pri recolhe-se a um canto. Falando consigo mesma.
Fica um clima estranho.
Rodrigo pega a Renata pelo braço, leva até a Pri e lhe diz.
- Fala para ela que eu a amo.
- Ele te ama.
- Viu? (sai, confiante. Volta até o note. Renata faz de ombros e volta até a janela)
(tempo)
Rodrigo sai. Deixa uma arma que tinha na cintura numa mesinha ao fundo, do lado esquerdo de Pri. Leva o celular, vai falando em voz alta com um comparsa.
(tempo)
Pri pergunta a Wlad.
- Por que ele faz isso?
Wlad não esboça reação.
Renata se aproxima de Pri. Senta-se do lado dela, do lado esquerdo. Murmura a ela alguma coisa. Se abraçam após alguns segundos.
Rodrigo volta. Não gosta do que vê. Finge que não se importa. Pega o note de volta. Renata fica ao lado de Pri. Olham para ele fixamente. Rodrigo olha a mesinha. Ela olha a mesinha, mas de leve. Ele ordena.
- Sai daí.
- O que é, agora?
- SAI DAÍ!!!
- O que é isso?
Rodrigo vai em direção dela.
- Sou sua filha, pai!
- E daí? Sai daí!
- Vou ficar com minha mãe!
Rodrigo vai correndo e pega a arma.
- Fica com essa puta, então. Otária!
- Pai, sou tua filha!
- Sei (com desinteresse).
Rodrigo pega um pó branco, distribui na mesa lentamente e cheira. Senta-se numa poltrona.
O tempo passa.
Ele diz.

- Vai à merda você, você e você. Vão todos à merda.